No último domingo, o armador Jeremy Lin deu uma entrevista para o jornalista Jason Friedman do Rockets.com que mostra o quanto o jogador está focado em fazer uma boa temporada em Houston.
Lin fala abertamente dos seus problemas em jogo e conta como tem trabalhado para melhorar essas deficiências, além de falar um pouco sobre como o “estrelato” afetou sua vida e também dá uma pequena aula de como o ball-hander pensa na hora do pick-and-roll.
Confira a entrevista, traduzida por mim, na íntegra que foi publicada no site oficial da equipe.
Como você compara este verão com o do ano passado? Eu sei que o ano passado foi muito caótico para você com a mudança de equipe e a reabilitação da cirurgia no joelho. Eu assumo que esta offseason tem sido completamente diferente para você.
Ano passado foi mais recuperação. Ano passado foi um verão bastante frustrante porque era pra eu me recuperar mais rápido, mas os dois ou três primeiros meses não foram como planejados. Este verão eu estou me sentindo muito bem e saudável, o que me proporcionou trabalhar em diversas coisas todos os dias. Está sendo muito mais fácil no sentido de saber o que cada dia irá trazer. Eu não ficarei sentando e pensando se meu joelho estará bem e se eu serei capaz de fazer isso ou aquilo. Eu sei o que estou fazendo, eu tenho um grande time ao meu redor, e nesse ano as coisas estão sendo muito mais focadas e tudo está de acordo com o plano.
Então, em que você está primordialmente focado em melhorar? Eu imagino que arremessar está bem perto do topo da sua lista.
Sim, arremessar e fazer um bando de coisas de canhotos – eu espero que eu consiga mostrar que eu melhorei bastante nestas coisas.
Eu também diria que outra coisa importante foi a postura. Não parece ser grande coisa, mas é vital para mim porque ela me deixava mais lento no passado. Este é mais uma das melhorias defensivas que estou tentando fazer.
Quando você fala postura, você quer dizer em termos de melhorar o seu equilíbrio na defesa para que possa mais facilmente e eficazmente mudar de direção? Você poderia dar mais detalhes em relação ao que reconhece como um problema e como isso se manifestaria em resultados na quadra?
Meu treinador de força, Daryl Eto, acha que eu tenho uma postura muito ruim e sabia que isso significa que, como um atleta, eu me movia com menos eficiência que deveria. Então nós detectamos o problema e ele veio com um plano para melhor especificamente isso.
Às vezes pode ser frustrante porque é como reaprender a básica das mais básicas coisas que neste caso é a postura e os padrões básicos de movimento. Não é fácil reaprender aos 24 anos coisas que você vem fazendo desde criança.
E isso é algo desenhado para ajudar você mais em fins defensivos?
Sim, a ideia não é tanto para ser mais vertical, mas para ter uma curvatura menor nas costas. Um exemplo é se você olhar o Derek Fisher, sua postura parece de um atleta. Se você olhar para mim, eu pareço o corcunda de Notre Dame (risos).
Eu lembro quando nós conversamos a algum tempo você mencionou que outra coisa que queria focar era em melhorar sua resistência mental. Como é o processo que se faz para fazer-se mentalmente mais duro e forte?
Eu acho que muito disso vem de treinar a mentalidade. Por exemplo: trabalhar em como sua mente reage a determinadas situações, como quando você erra o primeiro arremesso do jogo ou uma jogada. Então quer eu esteja jogando ‘pick-up’ ou jogando na Liga ou então apenas fazendo exercícios de arremesso, eu fico sempre dizendo ‘o próximo entra, o próximo entra’ a fim de treinar meu pensamento para que minha confiança nunca vacile e eu nunca permita que qualquer tipo dúvida apareça.
Porque a resistência mental é uma coisa mais intangível que tangível, você é capaz de notar melhorias atualmente nessa área, ou isso é algo que você realmente não pode saber até que os jogos comecem e você esteja no calor da batalha?
Você pode notar melhorias. Há pequenas coisas aqui e ali que mostram seu progresso. Mas no fim do dia é como fazer uma grande prova: você pode se preparar, preparar e preparas, mas se você congela quando realmente vale então foi tudo por nada e você não vai conseguir os resultados que trabalhou para obter.
Então, eu estou treinando todos os dias e eu posso definitivamente ver como as coisas estão melhores e diferentes, mas no final do dia, os únicos resultados que realmente importam para os atletas é o que acontece durante o jogo.
Bem, você é um cara de Harvard, deve estar acostumado com preparação para provas e então gabaritá-los, certo?
Não a parte de gabaritar, mas a parte de me preparar é definitivamente algo a que estou familiarizado.
Bem, para esse fim, eu queria falar com você um pouco sobre os playoffs. Você e eu já nos falamos antes sobre como seu jogo nos últimos meses da temporada realmente melhorou de como começou – você acertou quase 40% das bolas de três desde 1º de Fevereiro, por exemplo – então os playoffs começaram, você se machucou na primeira metade do JOGO 2, e seu ano terminou com uma nota negativa.
Agora que você já teve alguns meses para se distanciar da experiência da pós-temporada, como você olha para trás? Você pode colocar tudo na perspectiva correta e racionalmente perceber que algumas semanas decepcionantes não devem diminuir a importância dos meses de significativa melhora?
A temporada definitivamente não terminou do jeito que eu queria que acabasse. Eu tento me lembrar daqueles momentos quando estou treinando.
Um dos piores sentimentos como jogador é a sensação de estar fora mesmo estando em quadra e se sentindo incapaz de fazer qualquer coisa ou incapaz de causar impacto ou incapaz de controlar o jogo, especialmente para um armador. Eu tenho essa memória e sei como se sente e qual gosto parece. Durante toda a offseason eu venho tentando manter isso fresco em minha mente enquanto estou trabalhando para que eu nunca tenha que sentir isso de novo.
A última vez que nos falamos foi quando você estava em Los Angeles e o mini-camp informal do time tinha apenas começado. Tenho conversado com pessoas que estavam lá e viram você jogar e o consenso parece ser que você estava aparentando estar mais rápido e mais forte do que nunca. Você é capaz de avaliar onde você está como jogador e onde você quer estar depois de treinos como estes?
É difícil dizer, porque é tão diferente no verão. A mentalidade das pessoas é diferentes, a intensidade não é a mesma, não existe uma estrutura e assim você terá um monte de gente freelancing e algumas pessoas são naturalmente melhor nisso do que outros. Assim, somente um tanto pode ser tirado a partir daí.
Para mim, o foco é apenas ir melhorando, melhorando e acredito que, quando chegar o momento, os resultados estarão lá. Em muitas maneiras, é só aprender a deixar o desconhecido a Deus, e no que eu não sou tão bom eu vou continuar a trabalhando. Se eu tenho um bom treino ou um treino ruim, eu posso dizer que se eu analisar, geralmente isso significa que eu estou ficando cada vez melhor com o tempo.
Então, eu acho que o que estou dizendo é que minha medida para o sucesso não é muito determinada por como eu faço determinados exercícios específicos.
Isso é justo, e também me leva à minha próxima pergunta que é para você tentar avaliar como você se encaixa como armador. Não é nenhum segredo que a NBA é preenchida com bons, grandes e potenciais “hall of famers” armadores. Onde você acha que está, especialmente como um cara que veio para a liga se aproximando mais da mentalidade de pontuar-primeiro para agora estar mudando para mais uma vocação mais tradicional de armação, ainda mais tendo em conta que você joga com um All-Star que é excepcional com a bola nas mãos como James Harden, e outra Super-Estrela como Dwight Howardque vai precisar da bola um bom pedaço também?
Você sabe, eu realmente não pensei tanto a frente. Honestamente, eu não sei como responder a essa pergunta agora. É uma boa pergunta, mas para mim, eu realmente não tenho pensado muito sobre isso, porque eu tento não me preocupar muito com esse tipo de coisa, porque você nunca sabe o que vai acontecer. Alguém pode se machucar. Alguém pode se trocado. E de repente, tudo o que você passou todo esse tempo pensando é completamente diferente. Você nunca sabe.
Então, para mim, o verão é uma época em que eu realmente não penso em todo esse excesso de coisas. Todo e qualquer dia é apenas sobre: “Como eu posso melhorar hoje?’ Eu não estou muito preocupado com o entrosamento porque eu não sei ainda como vai parecer. Eu não vou ter uma compreensão concreta de como vai parecer até estejámos todos juntos para o training camp. Mas do ponto de vista habilidade Eu sei muito bem o que eu preciso para melhorar.
É uma Liga cheio de grandes armadores. Mas uma coisa que eu aprendi através dos meus primeiros anos na liga é só trabalhar, trabalhar, trabalhar e se concentrar nisso, porque todo o resto está fora de seu controle. Eu teria sabido que o meu primeiro jogo de sucesso ia ser contra Deron Williams? Claro que eu não poderia ter imaginado que iria acontecer, que eu teria um grande jogo contra ele e estar lá com ele quando indo para lá e pra cá. Eu não tinha idéia. Isso não é o que eu estava planejando, mas isso era apenas o resultado de todo o trabalho que fazia todo dia. Essa é a única coisa que eu posso controlar.
Isso é uma resposta incrível, o que é muito ruim, porque agora isso significa que eu estou a ponto de fazer o pior “segue” de todos os tempos. Eu queria roubar uma questão de Zach Lowe, que gosta de colocar esta pergunta para armadores: Nós todos sabemos que esta é uma Liga de pick-and-roll e com Dwight Howard, agora você tem, talvez, o melhor pick-and-roll roll man no planeta. Então, quando você estiver executando o pick-and-roll, o que você está lendo, o que você está procurando para poder explorar a defesa? Você está focado mais em seu defensor ou no big man encarregado de defender a jogada?
Em primeiro lugar, eu olho para o big man que está marcando quem está fazendo o pick. Essa é a primeira leitura, porque se ele não está lá, então você não precisa se preocupar com tudo.
Então é importante ver como ele está jogando você, porque se é um tipo de coisa como a ‘armadilha de Miami’, você precisa saber de antemão que, “Eu preciso dar a bola para o meu big man ou para alguém livre, e eu preciso fazê-lo rapidamente". Agora, se é Tim Duncan e ele está se mostrando um pouco “soft” e ele está tipo ‘zoneando’ você, então você sabe que terá um pouco mais de tempo para tomar sua decisão e ele não vai te dar nada de imediato, você terá que ser paciente. Depois, há alguns caras que simplesmente não são disciplinados e você pode furar a “parede” e explodir neles, ou alguns caras são lentos e você pode explorar certas coisas. Então, essa é a primeira coisa a que eu olho.
Agora o fato de que Dwight Howard estará ‘rolando’ para o garrafão vai afetar muito a forma como esse big man me marca – a quantidade de espaço que ele me dá, quão longe ele fica de mim, o quanto ele se compromete comigo – Dwight Howard vai mudar tudo isso. Cada equipe vai abordar isso de maneira diferente, mas o resultado final é que vamos ter muito mais espaço para operar apenas por sua mera presença em quadra.
Eu não quero lhe pedir para desistir de qualquer um dos seus segredos, mas existe uma estratégia para a defesa do pick-and-roll que você é mais cauteloso do que outras, ou realmente só depende da pessoa encarregado para executar essa estratégia?
Eu diria que tem muito mais a ver com a pessoa. Um grande defensor como um Tyson Chandler pode desempenhar vários tipos de defesa pick-and-roll e fazê-los todos bem enquanto alguns caras, simplesmente, não podem fazer nenhum deles. E então, quando você olha para os sistemas, um time como o San Antonio não vai deixá-lo sair do pick-and-roll e obter uma bandeja, mas você pode ver outra equipe - e não importa o sistema ou cobertura que eles correm - você vai encontrar uma maneira de obter uma bandeja contra eles.
Portanto, muito do que se resume a quem esse big man é, quão ágil ele é, como ele usa as mãos, o quanto ele se ‘entrega’, etc. Alguns caras, se você observar os seus pés com cuidado, eles vão se ‘entregar’ várias vezes e você pode apenas dizer quando eles não querem jogar a defesa. Você pode apenas olhar para a sua posição de corpo e saber que não está interessado e saber que você está recebendo uma bandeja. Mas você nunca vai ver isso de um Tim Duncan.
Não, definitivamente não. Resumindo aqui, você está prestes a embarcar em uma viagem de quase um mês de duração para a Ásia. Qual é a essência do que é esta viagem para você?
É tudo para aparições de marketing: aparições públicas, sessões fotográficas, fotos comerciais. Esse é um aspecto e o outro é um basketball camp que estamos fazendo para as crianças, que, para mim, é sobre devolver ao jogo e fazer com que o basquete cresça. Então, eu também vou estar fazendo um trabalho de caridade; há certas coisas que estarei fazendo em Taiwan e na China que estão no meu coração. Então a última coisa é meu evento evangélico de compartilhar meu testemunho. Todo ano eu escrevo um testemunho sobre o que Deus tem me ensinado no último ano e eu compartilho isso com quem quiser ouvir.
Você sente que sua vida, depois da montanha russa e chegando a ser uma celebridade internacional, chegou a uma espécie de equilíbrio, se não a normalidade, agora?
Oh, certamente. É muito mais normal agora. Parte disso é que as coisas se acalmaram um pouco de toda a “Era Linsanity”, mas a outra parte tem a ver com se ajustar e aceitar que esta é minha vida e é assim que ela vai se parecer agora – é apenas realidade. Portanto é um pouco dos dois, mas é definitivamente mais normal do que vinha sendo no passado. Isso que que eu gosto de voltar para Califórnia: quando eu chego em casa, tudo parece muito mais normal.
Então, parece que ao longo do último ano ou assim que você aprendeu a lidar melhor com a instabilidade inerente à vida na NBA. Até certo ponto há educação, depois vem aceitação, e por fim é apenas constatação de que está fora do seu controle então você tem que se concentrar em como você irá responder a qualquer situação que venha a seu encontro.
Eu sei que assim parece simples – e eu sei que não é – mas isso é basicamente o que esse último ano foi para você?
Sim, eu diria que isso é verdade para todo mundo, mas acaba sendo mais ampliado pela minha vida ao longo do último ano. Você resumiu muito bem. É só aprender a tirar o que vem na jornada da vida. Para mim, é a compreensão de como responder ou reagir, ou para ser a pessoa que usa a plataforma da forma que Deus quer que eu faça.
Para mim, voltar para a Ásia e fazer essas coisas, é importante porque me lembra: Isso é porque Deus me colocou aqui – é para este evento evangélico, ou o trabalho de caridade, ou o crescimento do jogo. Mesmo o lado do marketing, é construir a marca ou construir a plataforma e ganhar dinheiro que quando você quer fazer alguma coisa ou têm uma mensagem, as pessoas vão escutar. Eu acho que está tudo ligado a um cenário maior.
Última pergunta, Jeremy, e de longe a mais importante: Você já terminou de assistir Naturo ou ainda estão faltando episódios?
(risos) Eu estou com um problema sério. Eu estava indo forte demais e em seguida, meu treinador se zangou e meio que se perdeu. Mas é um grande ponto que você trouxe. Esta é a coisa mais importante e eu certamente voltarei nisso (risos). Meu irmão mais novo gosta de assistir e fala sobre isso muito. Eu preciso ser capaz de manter a conversa.
Bem, eu não sei quanto tempo livre você terá na Ásia, mas talvez quando você estiver de folga em seu hotel, você pode assistir a alguns episódios aqui e ali.
Parece um bom plano. Eu estou nele.
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