O Houston
Rockets tem uma longa história de inovar na competição, mas o salto intelectual
mais significativo na história da franquia está acontecendo a mais de 350
quilômetros de distância do Toyota Center, em Hidalgo, no estado do Texas.
Lá o Rio
Grande Valley Vipers, filial do Rockets na D-League, está jogando basquete de
uma forma que poderia muito bem ser uma prévia do que a NBA virá a ser daqui a
alguns anos.
Simplificando,
o Vipers está jogando muito rápido, disparando tiros de três pontos a um ritmo
sem precedentes e, mais importante, vencendo os jogos. Nesta temporada, o
Vipers vem tendo uma média de 45.9 tentativas além do arco.
Essa média é
uma dúzia maior que o segundo time que mais tenta bolas de longa distância, o Los
Angeles D-Fenders. Claro que, como um todo, a D-League tem muito mais jogadas
de três pontos, mas para efeito de comparação, o Rockets lidera a NBA nos
arremessos de três pontos por jogo na liga, com uma média de 26.6.
O Vipers está quase dobrando esse número.
Pace (ritmo do jogo) é outro elemento
chave para o ataque do Vipers. A média é de mais de 110 posses por 48 minutos,
uma marca que é muito maior que a do Philadelphia 76ers, líder na NBA, com 101.
Assim como o
Rockets, o Vipers tem abandonado totalmente o chute de média distância, e
fazendo apenas arremessos da área pintada e chutes para três pontos. Uma
simples olhada no gráfico de arremessos da equipe nesta temporada pode
clarificar isso.
O Vipers (e também o Rockets)
deveria receber os créditos por tentar essa estratégia tão inovadora mesmo se
não estivesse o levando ao sucesso. Tem um valor imenso no espírito pioneiro.
Mas a tática tá funcionando.
O Vipers conquistou o seu segundo
título da D-League em quatro anos e também começou está temporada com nove
vitórias seguidas, o que os faz atingir a incrível marca de 16-0 em partidas da
temporada regular empatando o recorde da liga.
O técnico da equipe, Nevada
Smith, não liga para as críticas que os especialistas têm feito sobre o estilo
de jogo da equipe. “Eles dizem que não é basquete, mas se pudermos arremessar
de três em todos os ataques, nós o faremos. Será um jogo em que arremessaremos
60 vezes. E o povo pensará que nós somos loucos”, afirmou.
SEM SURPRESAS
Não é de chocar ninguém que o
único time da D-League que poderia fazer isso era o afiliado do Rockets. O time
de Houston tem sido pioneiro em praticamente todas as inovações da NBA desde
que Daryl Morey se tornou o General Manager da franquia.
E o Rockets está fazendo quase as
mesmas coisas que o Vipers tem feito. Por exemplo, o Houston tenta 9,3 bolas de
meia distância por jogo e é o que menos faz isso na NBA, o segundo neste
quesito é o 76ers com 18,4, quase o dobro.
Portanto, o Rockets está
acompanhando a mudança que o Vipers já fez em sua forma de jogar. Em entrevista
recente para o TrueHoop, o armador
Patrick Beverley afirma que a equipe nem treina os arremessos de mid-range: “nós treinamos apenas
bandejas e bolas de três”. Junto com Francisco Garcia que também participou da
entrevista ele completa dizendo: “nós não gostamos de mid-range”.
Essas mudanças dentro de quadra
são reflexos da mentalidade futurista que Morey implantou no Rockets e todos os
movimentos que ele fez nos últimos anos. Houston é famoso por ter sido o
primeiro time da NBA que adotou as estatísticas como principal fonte de
avaliação e também foi uma das equipes que sempre se recusaram a tankar.
O time tem sempre recebido
escolhas do meio da primeira rodada do Draft e soube utilizá-las corretamente
além de ter feito movimentos agressivos no mercado de transferências. Morey não
se acanha em fazer ofertas longas para jogadores de segunda rodada como
Chandler Parsons nem dar contratos “poison pill” para Omer Asik e Jeremy Lin e
também transformar um reserva do Oklahoma City Thunder como James Harden em seu
principal jogador.
Com todo esse retrospecto, estava
claro que Morey não iria perder a possibilidade de transformar o Vipers em um laboratório
de experiência do Rockets. Logo, o que vem acontecendo com o time da D-League é
um esforço conjunto entre as duas organizações.
Copiar e Colar
A ideia do Rockets não é uma
loucura total. Muitas equipes da NBA sabem do potencial que as bolas de três
tem dentro de uma partida de basquete. E matematicamente acertar 33% dos
arremessos atrás do arco equivale a um aproveitamento de 50% em bolas “normais”.
Todos os times têm arremessado
mais bolas de três pontos. Por exemplo, na última temporada a NBA a média de
bolas de três tentadas foi de 24,3%, recorde de uma temporada. E neste inicio
já está acima com 25,3%. Ou seja, de cada quatro arremessos em um jogo da NBA
um é de três pontos.
O Rockets está acima desta curva ascendente
e, além disso, ainda conta com o Vipers como um teste para enfim poder abraçar
essa mentalidade com um jogo de velocidade, três pontos na NBA.
Houston tem mudado o jogo e se
formos prestar bastante atenção não é realmente uma mudança tão radical assim.
* contribuiu para o artigo o George Raposo
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