Definindo uma cultura própria


Ao contrário da cultura popular, o principal problema para o Houston Rockets de 2015/16 não foi a defesa. Em vez disso, foi sobre algo ainda maior: CULTURA.

É por isso que as contratações de Ryan Anderson e Eric Gordon fazem muito sentido, mesmo que nenhum dos dois seja conhecido por suas defesas. E é por isso que o Rockets escolheu Mike D’Antoni como seu novo técnico, apesar do seu retrospecto ruim na defesa.

Os problemas do Rockets eram maiores na execução do outro lado da quadra. O que time de 2015/16 mais sentia falta era de uma identidade consistente. Kevin McHale e JB Bickerstaff eram conhecidos por serem “técnicos de jogador”, mas a aproximação falhou enormemente porque as peças do elenco não se encaixavam facilmente. Com sua saúde em declínio, Dwight Howard se convenceu ainda mais com a ideia de um estilo de jogo mais devagar e voltado para o post enquanto James Harden tentou corrigir a equipe da sua maneira, com maior velocidade e um ataque liderado por um pick-and-roll mais espaçado.





Substituindo Howard por Anderson e Gordon


É justo dar o crédito, pois Harden e Howard nunca deixaram suas diferenças serem pessoais. Os dois foram verdadeiros profissionais nos vestiários de Houston, e eles genuinamente tentaram liderar e trabalhar juntos. Entretando, as preferências de jogo dos dois eram claramente diferentes. Isso combinado com um sistema sem identidade resultou em uma péssima química em quadra.

Sim, o Rockets terminou com a 8ª melhor eficiência defensiva e 20º em defesa. Mas o ataque acima da média foi quase exclusivamente por Harden, que marcou 29 pontos por jogo e permanece sendo um dos melhores jogadores do mundo e no auge de sua carreira. Mas do ponto de vista de um time, o Rockets parecia “quebrado” (como JB falou uma vez) nos dois lados da quadra, e os erros no ataque eram facilmente computados na defesa. Lapsos mentais eram abundantes.

E aí que entra D’Antoni, que é conhecido por um sistema estruturado que prioriza as oportunidades em transição, velocidade, arremessos de 3 pontos, e extensa movimentação de bola e jogadores. Howard não se encaixa nesse sistema, então o Rockets não o procurou agressivamente. Por outro lado, Anderson e Gordon – como excelentes arremessados e favoráveis ao pick-and-roll – se encaixam perfeitamente.

Depois de tudo, enquanto o Rockets foi o segundo que mais arremessou de 3 pontos na última temporada, foi apenas o 19º em aproveitamento com 34,7%. Isso pode mudar com Gordon, que tem 38% na carreira e Anderson com 37%.

Combinada, a dupla marcou mais de 32 pontos por jogo com o New Orleans Pelicans na última temporada atuando em menos de 30 minutos. Nenhum irá substituir a defesa de Howard, mas essa responsabilidade irá para Clint Capela em sua terceira temporada.

Sistema vira identidade

O objetivo é maior que ocupar o espaço deixado por Howard. Isso é porque pela primeira vez desde os tempos de Rick Adelmas, a identidade do Rockets não será exclusivamente deixada na mão de um ou dois jogadores. Em vez disso, a identidade deve ser o sistema de D’Antoni, com jogadores que queiram adotá-la (incluindo Harden) porque funciona com seus talentos também.

É por isso que eu rejeito a noção de 41-41 como base para as expectativas da nova temporada. Eu vi um grande número de analistas pesarem a saída de Howard contra as chegadas de Gordon e Anderson, enquanto eles vem com um “número” de vitórias que o time vai melhorar ou piorar.

As peças do ano passado eram mais fortes que 50%. Afinal, o elenco tinha o MVP dos jogadores e, no geral, parecia igual ao que venceu 56 jogos e avançou as finais do Oeste um ano antes. No entanto, problemas de entrosamento levaram ao time se tornando menos que suas partes.

Em 2016/17, finalmente parece ter uma visão clara e unificada. Isso inclui o técnico D’Antoni com um ataque definido, e o General Manager Daryl Morey que procura jogadores que melhor encaixam nesse sistema. Isso pode ser a receita para uma química positiva, e o tipo de dinâmica que normalmente leva a conquistas maiores que o talento individual.

Mesmo assim, as expectativas devem ser moderadas. Harden permanece sendo a única grande peça do elenco, e em um Oeste que tem um Warriors com 73 vitórias mais Kevin Durant, o Rockets não deve chegar a esse nível sem outra estrela a bordo.

No entando, pode ter um significante passo a frente. Lembrando do exemplo do Portland Trail Blazers, que mesmo sem LaMarcus Aldridge conseguiu ir aos playoffs e avançou as semifinais do Oeste ao contrário de todas as previsões. A química entre Damian Lillard, CJ McCollum e o sistema levaram o Blazers a ser melhor do que no papel.

Esse pode ser um modelo justo para o Rockets na próxima temporada. Anderson e Gordon podem não oferecer a dominância que Howard mostrava (às vezes), mas eles tem habilidade de se encaixar no sistema e beneficiar o time como um todo.

O futuro de Harden

Há um quadro ainda maior do que apenas a próxima temporada. O Rockets já está correndo contra o relógio pensando na free agency de Harden em 2018 e precisa dar a ele razões legítimas de ficar em Houston.
Isso explica porque adquirindo jogadores de “renome” como Anderson e Gordon tem sua importância. Você pode argumentar que Mirza Teletovic (30M/3) tem um valor maior que Anderson, mas o Rockets não está na posição de arriscar tanto em projeções e potencial.
 Saindo de uma temporada desapontante, o Rockets tem que dar ao Harden uma razão imediata para acreditar. Apesar de Anderson e Gordon terem alguns problemas físicos, ambos demonstraram ser jogadores acima da média na NBA. Em alguns momentos, ambos se mostraram quase excelentes no ataque – tudo com um estilo que, ao menos no papel, se encaixa perfeitamente com Harden e D’Antoni.
Isso não faz o Rockets um “contender”. Mas pela primeira vez em meses, há otimismo e momento positivo ao redor do time. Há um senso que a franquia pode se ajeitar após os problemas da última temporada, e a narrativa que Houston está em declínio pode ser mudada.
A subida não será tão fácil quanto se tivesse Durant, mas raramente times são capazes de mudar seu destino em uma só tacada. Geralmente, requer um processo contínuo – e as chegadas de D’Antoni, Anderson e Gordon dá a Houston uma clara e alinhada base e identidade do que eles quiserem construir daqui pra frente.
Ainda há muito trabalho pela frente. Com Harden no elenco, o Rockets dificilmente será ruim o bastante para conseguir um jogador transformador via Draft. E na free agency, conseguir uma estrela para Houston requer praticamente um eclipse lunar. Com tudo equilibrado, a maioria irá escolher um melhor lugar de encaixe ou um mercado maior para aumentar suas marcas. Assinar com o Rockets nesse verão, vindo de uma temporada 50% e enfrentando questões sobre cultura, era quase impossível.

Agora, a chave é retomar o otimismo ao redor da franquia ao nível que era no começo da era Harden, quando o time atraia com sucesso os melhores agentes livres do mercado (Howard). O Rockets ainda não está, mas ajeitar a cultura é um modo apropriado de começar.

(Baseado no original de Ben DuBose)

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